PROJETO FAMÍLIA STRONGER
Uma experiência de narrativa transmídia e antropologia visual.
Na década de 1970, durante a ditadura militar no Brasil, travestis e gays do centro de São Paulo começaram a formar grupos para se proteger. De maioria abandonada por seus parentes consanguíneos, esses jovens encontraram acolhimento no que passam a assumir como famílias, adotando um sobrenome em comum e estabelecendo relações de parentesco.
Chamadas de Famílias da Noite, depois de Famílias GLS e, atualmente, conhecidas como Famílias LGBT, essas redes de pais, mães, irmãos e irmãs cresceram, multiplicaram-se e se transformaram-se em importantes espaços de vivência e descoberta coletiva. Apesar de morarem em bairros distantes da parte central da cidade, a região do Arouche e a Rua Augusta foram cenários frequentes de suas histórias e rolês.
POR QUE A STRONGER?
Família Stronger é uma família LGBT formada por cerca de 250 membros. Sua história pode ser erroneamente confundida com a de uma gangue ou de uma ONG, mas sua estrutura é ainda mais complexa. Pessoas trans e cis, travestis, gays, lésbicas, bissexuais e mesmo heterossexuais se organizam nessa rede afetiva e política submetidos à uma única regra fundamental: não à discriminação, seja ela qual for. Criada por um adolescente de dezessete anos, o coletivo já nasceu em tempos de redes sociais numa comunidade do Orkut. Fora do mundo virtual, encontravam-se em “PVTs” (festas privadas) onde diferentes corpos dançam até o chão ao som de música pop e funk. Foram também a primeira Família LGBT a produzir um cineclube mensal sobre diversidade no Grajaú, bairro na Zona Sul paulistana. A partir dos debates nessas sessões de filmes que o seu ativismo político começou a tomar forma. Passíveis de uma violência diária que o outro lado da cidade ignora, chega o dia em que uma de suas integrantes é brutalmente assassinada. Com o apoio da miltância LGBTI+ e outras Famílias LGBT, a Stronger mobilizou manifestações e conquistou seu lugar de influência na luta contra a LGBTfobia.
DOMINGO
Documentário | Curta metragem / Videoinstalação | 25′ | 2019
Filmado em um único dia, o trabalho transita de um almoço de família a uma conturbada manifestação de rua na semana do golpe de 2016.
Vencedor do Prémio APA 2019 – Margot Dias e Benjamim Pereira, o maior reconhecimento de antropologia visual em Portugal, e de Melhor Curta Metragem pela ANPOCS no Instituto Moreira Salles [SP], o curta integrou a exposição The Art of Fake News no Rich Mix [Londres, Inglaterra] e o programa Queer Brazil do 16th Royal Anthropological Institute Film Festival [Bristol, Inglaterra e Los Angeles, Estados Unidos]. A versão vídeo instalação em duas telas foi montada na 21ª Bienal de Arte Contemporânea SESC_Videobrasil [SP] e na exposição Pulsões do 12º Prêmio Diário Contemporâneo de Fotografia [PA]. Em 2024, Domingo foi selecionado para a retrospectiva das obras que marcaram os 40 anos da Bienal Videobrasil, na seleção do crítico de arte Fabio Cypriano.
SINOPSE
[POSTER] [VIDEOINSTALAÇÃO]
“Um filme dos artistas brasileiros Paulo Mendel e Vi Grunvald se destaca (e) demonstra até que ponto o Estado vai agir para proteger sua soberania.”
ArtReview – Dezembro 2019
“Uma mistura de Ryan Trecartin, “Paris is Burning” e “A Grin Without a cat”, nós acreditamos que “Domingo” é algo realmente especial.”
Royal Anthropological Institute of Great Britain and Ireland
Indicado como uma das “10 obras que você precisa ver na Bienal do Videobrasil”.
Arte que Acontece – Janeiro 2020
“É, em suma, um filme que revela um Brasil que resiste a novas tiranias que se impõem ao coletivo e aos indivíduos nas suas múltiplas subjetividades.”
Associação Portuguesa de Antropologia
[TRAILER]
FAMILIASTRONGER.COM
Webdocumentário | 2017-2019
Uma plataforma de conteúdo work in progress, na qual são publicados estudos audiovisuais feitos a partir do processo de todo o projeto.
O webdoc apresenta personagens de forma interativa através de uma rede social da família e um blog escrito por eles. Os dados coletados dessa rede geram o desenho de um diagrama de parentesco não convencional, onde é possível acessar os perfis dos Strongers, assim como retratos em vídeo e fotografia instantânea. O site foi apresentado no programa público Des/re/organizações afetivas na 33ª Bienal de São Paulo, no Risco Festival no Instituto Tomie Ohtake [SP]. no Museu de Arte do Rio Grande Sul, no ProyectoIDIS.org – Investigación en Diseño de Imagen y Sonido da Facultad de Arquitectura Diseño y Urbanismo – Universidad de Buenos Aires [Buenos Aires, Argentina] e em congressos na USP, UFRGS e ISCTE-Lisboa. A pesquisa audiovisual e etnográfica do Projeto Família Stronger foi o tema de todo o Capítulo 4 do livro Exploring Ibero-American Youth Cultures in the 21st Century: Creativity, Resistance and Transgression in the City [Londres, Inglaterra].
SÉRIE DE VIDEORETRATOS
Documentário | 14 Videoretratos | 110′ | 2017-2018
Lançados mensalmente no primeiro ano do site, essa série com roteiro não-linear totaliza mais de 100 minutos de depoimentos de Strongers, numa montagem minimalista com planos fixos e sem cortes .
O corpo inerte, presença retratística na fotografia, dá lugar a gestos e movimentos. Às vezes, apenas lentamente percebidos; outras vezes, imersos em ritmo mais próximo da nossa percepção rotineira e cotidiana. Olhos desconfortáveis que fitam o fora de quadro. Sorrisos envergonhados. Perguntas feitas com hesitação de quem não sabia os limites do exercício artístico que lhes estava sendo proposto. Principalmente nos dias de hoje, em que quase todos, com seus smart phones, estão perenemente dotados daquilo que Michael Taussig chama de máquinas miméticas, quem se encenaria por tanto tempo na pose de um retrato? Para acessar os videoretratos na íntegra, acesse a página principal do site [www.familiastronger.com] ou assine nosso canal de YouTube [@projetofamiliastronger].
TEASERS
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01 – ROBERTOPai e fundador da Stronger. Morador de São Caetano do Sul, publicitário, foi líder do grupo de jovens evangélicos e integrante da “Mancha Verde”. Entre a igreja e a torcida organizada, cresceu em ambientes sem referências gays. Ganha fama na noite por proteger LGBTs da região do Arouche contra violências de outras famílias, bandidos e skinheads. |
02 – DIANAIntegrante mais recente, incorporada ao coletivo após sua expulsão de casa. Nascida em São Bernardo do Campo, mora numa república na Zona Norte de São Paulo e é estudante de design. Desde criança, achava que era intersexo e pedia a Deus para morrer. A bissexualidade na adolescência detona um confronto com sua mãe – quem a “ensinou a ser menino” – que agrava com a disforia de gênero. |
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03 – JAPAMembro há sete anos, pai e figura super popular na família. Morador de Itaquaquecetuba, estuda enfermagem e trabalha numa rede de mercados. Entra na família na época de noitadas no Arouche, mas é quando fica viúvo aos 18 anos que mais precisa deles. Filho de Roberto, é pai na Stronger e dentro de casa, de seu sobrinho, mostrando como a parentalidade também é relativa dentro de famílias consanguíneas. |
04 – RENATOConhecido também como Suzana Hernandes, uma das drag queens que fazem parte da Stronger. Nascido e criado na zona norte de São Paulo, Renato fez duas faculdades e está desempregado. Como drag, quebra esteriótipos do que chama de “RuPaulização”, inclusive pelo sobrenome escolhido, uma homenagem à bispa da igreja evangélica a qual também faz parte, uma religião conhecida pelo conservadorismo e associada à homofobia. |
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05 – CHARLIE GABRIELPrimeiro homem grávido da família Stronger. Morador de Osasco, cuidador de idosos e casado com Bruna, mulher trans. Nem mesmo suas histórias de abandono e violência com os pais consanguíneos foram capazes de atrapalhar sua busca por uma família. No seu sétimo casamento com apenas 22 anos, ele descobre estar gestante. |
06 – MANDYJovem militante da família Stronger. Aos 19 anos, mora com o namorado, largou o colégio e está em busca de emprego. Criada em Paraisópolis, essa jovem coloca o ponto de vista de quem vive o lado mais frágil do abismo social de nosso país e conta sobre seu empoderamento diante de um racismo e machismo impregnados no brasileiro. |
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07 – ELVISRepresentante político e o pai com maior número de filhos da Stronger. Com mais de 60 filhos e filhas, esse militante desempregado dá uma aula sobre como lidar com diferenças e estimular a liberdade de cada um. Nascido e criado em Cidade Ademar, dedica quase todo seu tempo à militância LGBT. Sua pesquisa sobre a história das famílias LGBT de São Paulo inspira o projeto. Seu relato cruza com a história do nosso país e traz à tona a força de viver em grupo. |
08 – EMERSONEntrou na família aos 12 anos. Ama sair pra dançar com o “Bonde da Stronger’ e trabalha em telemarketing. Desde sua infância no interior da Bahia, já sabia que era gay mas tinha medo de se assumir, principalmente por ter um pai machão. Seu interesse por homens começa na infância, quando ainda morava na roça. Aos 16 anos e de temperamento forte, ele reivindica seu direito à fala e se mostra muito seguro com quem é. |
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09 – MATHEUS EMÍILIOMilitante e integrante da família Stronger, também é conhecido por sua página Menino Gay. Aos 22 anos, já se viu saindo de três armários diferentes: como bissexual, como homossexual e depois do HIV. Passou a adolescência numa cidade pequena, em Minas Gerais. A internet e a cultura pop foram determinantes no processo de compreensão de sua sexualidade, principalmente depois do HIV. |
10 – GABRIEL E IVANCasados há nove anos e irmãos na Stronger. Ivan é maquiador e Gabriel trabalha em um órgão público. Ambos nascem em famílias que o s apoiam afetivamente e materialmente, apesar das dificuldades. Esse videoretrato se dividiu em dois filmes independentes e complementares. Gabriel é de direita e Ivan apartidário, mas os dois encontram na Stronger um espaço independente de partidos para lutarem juntos contra a LGBTfobia. |
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11 – BIARecém integrada à Stronger, representa a sexta e mais recente geração. Aos 21 anos, já vendeu água no sinal, trabalhou como cobradora de ônibus e em uma fábrica. Sua infância foi marcada por diversas violências – tanto morais quanto físicas -, culminando em seu estupro, aos 8 anos de idade. Logo após se assumir lésbica, passa por situações que quase lhe custam a vida. |
12 – MATHEUSMembro desde quando a família brigava na rua. Foi criado pela família de um ex namorado da mãe e começou a trabalhar ainda criança. Desempregado depois de sofrer com homofobia numa rede de fast food que trabalhava, ele investe em seu canal no youtube, onde aparece de drag. Sem contar com a família consanguínea, este jovem de 22 anos vai em busca de construir novas relações de parentesco dentro da Stronger e do candomblé. |
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13 – LAURA VERMONT (in memoriam)Membra da Stronger desde antes de iniciar a transição, se torna a hostess das festas da familia. Apesar de totalmente aceita pela família consanguínea, é na rua que se choca com o preconceito e se torna mais uma vítima da violência contra LGBT no Brasil. Alegre e vaidosa, adorava sair, dançar e, principalmente, “bater cabelo”. Não perdia uma Parada LGBT e onde ia, arrastava amigos e primas. Logo após seu primeiro aniversário como Laura, aos 18 anos, ela se torna vítima de um crime envolvendo sete homens, sendo dois policiais em serviço. |
É a primeira vez nessa série que não há depoimento da pessoa retratada, e só é possível construí-la através das representações de seus parentes mais próximos – através de depoimentos e acervo pessoal – e das relações interpessoais que podem ser percebidas neste retrato de família.
SÉRIE DE FOTOGRAFIA INSTANTÂNEA
Fotografia | 2016-2018 de Paulo Mendel
Com uma câmera automática, Paulo Mendel fotografou os Strongers e aliados, reunindo um material de centenas de registros da cena LGBT em São Paulo.
Parte dessa série pode ser vista na página principal do site [www.familiastronger.com] ou no perfil do projeto no Instagram [@projetofamiliastronger].
DIRETORES
Paulo Mendel é realizador audiovisual e artista, pós-graduando em Direitos Humanos e em Psicanálise: da Clínica à Cultura. Desde 2002, explora possibilidades audiovisuais em diferentes meios, com ênfase na interface entre arte e vídeo, e videoarte e documentário. Realizou projetos culturais e de entretenimento fundamentados pela diversidade e sustentabilidade, com especial interesse em cinema expandido e novas tecnologias. Dirigiu curtas metragens independentes, premiados e exibidos em mais de 25 países. Criou trabalhos híbridos – webdocumentários, webséries, web artes, vídeo instalações, videoartes, videogames, videodanças e cenários multimídia – apresentados em grandes festivais, como na Bienal de São Paulo, na Bienal de Arte Contemporânea Sesc_Videobrasil [SP] e na Quadrienal de Praga – Prague Quadrennial of Performance Design and Space [Praga, Tchéquia], no MIS – Museu da Imagem e do Som [SP], no Instituto Tomie Ohtake [SP], no Museu da UFPA – Universidade Federal do Pará, na OCA – Museu da Cidade de São Paulo, no Rich Mix [Londres, Inglaterra] e que integram coleções, como a do Circuito Videodanza Mercosur [América do Sul], Centre de Vidéo-danse de Bourgogne [Borgonha, França] e Acervo Videobrasil [SP].
Vi Grunvald é travesti, artivista e professora do Departamento de Antropologia e do Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social da UFRGS, onde coordena o Núcleo de Antropologia Visual e integra o Núcleo de Antropologia e Cidadania. Co-coordena também o Grupo de Reconhecimento de Universos Artísticos/Audiovisuais da UFRJ, além de ser pesquisadora de diversos outros grupos de pesquisa na Universidade de São Paulo (USP) como NAPEDRA, GRAVI, NUMAS e PAM. Possui formação também em cinema pela Academia Internacional de Cinema. É fotógrafa, realizadora audiovisual e seus trabalhos, tanto acadêmicos quanto artísticos, giram em torno de política, direitos humanos, gênero, sexualidade, arte, imagem, performance, cinema, estratégias documentais e teoria queer/cuir. É também artivista da coletiva Revolta da Lâmpada, de inspiração queer e interseccional. E membra do Comitê Gênero e Sexualidade (2021-22) e do Comitê de Antropologia Visual (2019-22) da Associação Brasileira de Antropologia (ABA), além de presidenta do Prêmio Pierre Verger (2021-2022) desta instituição.
STILLS
Produção