Quando comecei a trabalhar na noite tinha 18 anos, tinha acabado de sair de um “casamento” com um jogador de futebol fracassado, que não valia nada. Comecei sair pras baladas quase toda noite com algumas amigas, até que um dia uma delas me falou que trabalhava em uma casa noturna e ganhava quase 15 mil por mês. Pensei, pensei…. E cheguei a uma conclusão: eu também vou começar a trabalhar na noite! Eu não achava justo trabalhar o mês inteiro, inclusive aos sábados pra ganhar 600 reais na época. Então tomei coragem e fui. Essa casa noturna é mais conhecida como castelinho, no final da Augusta, lá as garotas eram mais “decentes” cobravam mais caro e o público frequentador era bem mais selecionado, muito mais “seguro”. No começo eu não entendia nada, m...
A invisibilidade das mulheres negras e lésbicas no movimento LGBT Por Jarid Arraes originalmente para a Revista Alternativa-L (www.jaridarraes.com) Com tanta dificuldade e violência impostas às pessoas que não se enquadram no padrão heteronormativo, racista e sexista da nossa cultura, uma das maiores urgências é a atuação dos movimentos sociais, que precisam reivindicar direitos e apresentar as demandas das minorias ao Estado e à sociedade. Atualmente, vivemos uma realidade de invisibilidade e omissão, com tamanha gravidade que certos grupos não são lembrados nem mesmo no contexto de militância. As mulheres negras e lésbicas são um exemplo desse esquecimento seletivo, pois ficam à margem até mesmo dos grupos que deveriam lhes garantir representatividade e inclusão. As instituições e militâ...
Os meios de comunicação esgotam as formas de contar as agruras das “saídas do armário” dos homossexuais masculinos, mas pouco se fala do assumir-se ou descobrir-se das mulheres, passando a falsa impressão de que não sofremos, não possuímos medos ou dúvidas e que toda a pressão familiar e social só recaia sobre os homens gay. Conversamos com 3 leitoras que nos revelaram toda sua rebeldia em assumirem –se lésbicas ou bissexuais e o preço pago por essa ação. ELA ( Bianca 18 anos) Tudo começou com apenas um olhar…um toque… Todos nós, em algum momento de nossas vidas, paramos e nos perguntamos quem realmente somos. Medimos nossos atos, nos surpreendemos com os nossos desejos, descobrimos um novo “eu” a cada sentimento. Como todo cidadão nos encaixamos na sociedade, nos privamo...
04 de julho, inverno, um clima estranho na cidade. O frio se aproxima e o sol, sem aquecer, insiste em brilhar no céu. Aproximo-me do cemitério da cidade, o local marcado para o encontro, e eu sei que ela estará a minha espera. Ao cruzar o portão da necrópole meu coração congelou, assim como o tempo parecia ter congelado naquele lugar. A cada passo o uivo do vento e o canto dos pássaros entoavam uma melodia desconhecida que me arrepiava inteira, um misto de ansiedade, medo e dúvidas. As folhas das árvores faziam um balé ao meu redor e sobre minha cabeça e na mais pura tradução refletiam o turbilhão de emoções que me envolvia naquela caminhada pelos caminhos de pedra daquele cemitério. Avistei-a de longe, os cabelos e as vestes negras, a pele alva, a boca pálida e as mãos a segurar um copo ...