A invisibilidade das mulheres negras e lésbicas no movimento LGBT
Por Jarid Arraes originalmente para a Revista Alternativa-L (www.jaridarraes.com)
Com tanta dificuldade e violência impostas às pessoas que não se enquadram no padrão heteronormativo, racista e sexista da nossa cultura, uma das maiores urgências é a atuação dos movimentos sociais, que precisam reivindicar direitos e apresentar as demandas das minorias ao Estado e à sociedade. Atualmente, vivemos uma realidade de invisibilidade e omissão, com tamanha gravidade que certos grupos não são lembrados nem mesmo no contexto de militância. As mulheres negras e lésbicas são um exemplo desse esquecimento seletivo, pois ficam à margem até mesmo dos grupos que deveriam lhes garantir representatividade e inclusão. As instituições e militância LGBT, por exemplo, repetem com frequência um discurso profundamente elitista e padronizado, que garante somente a representação dos homens gays, brancos e com algum poder de consumo – pois reforçam padrões que acabam sufocando as demandas e manifestações políticas de outros grupos inseridos na sigla LGBT, como as mulheres negras lésbicas .Assim, o movimento LGBT reproduz séculos de lógica eurocêntrica e racista, além de evidenciar um sistema de atuação machista, que constantemente pretere o feminino. Por isso é tão difícil encontrar lésbicas negras em posição de destaque, recebendo o devido reconhecimento por suas árduas lutas cotidianas. A importância das mulheres negras é ignorada, as especificidades das lésbicas da periferia não chegam aos ouvidos dos grandes destaques LGBT e, assim, a violência lesbofóbica e racista encontra muito mais suporte para que continue a ser perpetuada. Falta ao movimento LGBT uma grande atitude de autocrítica, para que as lideranças e pautas sejam revistas. É preciso haver uma profunda transformação de valores para que possamos preservar a diversidade. As mulheres negras, lésbicas e periféricas são plurais e protagonizam as mais diversas frentes políticas, mas lamentavelmente continuam figurando as piores estatísticas sociais do Brasil. A quem domina os debates, eventos e entretenimento LGBT, lanço o questionamento: até quando agirão como se as mulheres negras lésbicas não existissem?