Quando comecei a trabalhar na noite tinha 18 anos, tinha acabado de sair de um “casamento” com um jogador de futebol fracassado, que não valia nada. Comecei sair pras baladas quase toda noite com algumas amigas, até que um dia uma delas me falou que trabalhava em uma casa noturna e ganhava quase 15 mil por mês. Pensei, pensei…. E cheguei a uma conclusão: eu também vou começar a trabalhar na noite! Eu não achava justo trabalhar o mês inteiro, inclusive aos sábados pra ganhar 600 reais na época. Então tomei coragem e fui. Essa casa noturna é mais conhecida como castelinho, no final da Augusta, lá as garotas eram mais “decentes” cobravam mais caro e o público frequentador era bem mais selecionado, muito mais “seguro”. No começo eu não entendia nada, mas fui observando bastante como funcionava, eu não me drogava nem bebia, nunca fui de fazer isso, muito menos quando eu vou sair com um cara que eu não conheço, para mim era muito mais seguro estar sóbria, já com minhas amigas era um sacrifico, pois elas não conseguiam trabalhar sem estarem chapadas ou drogadas. Eu não saía com qualquer um, minha preferência era os japoneses, eles são sensacionais, verdadeiros cavalheiros, pagam bem, nos tratam bem, são os melhores.
Sair com brasileiros só em último caso de extrema necessidade. . Eu sai com um mineiro, homem lindo, cheiroso, mas estava muito bêbado, eu não tenho paciência para bêbados (risos). Neste meio tempo que trabalhar conquistei muitas coisas, mas o dinheiro que vem fácil, vai mais fácil ainda Fora que hoje com 25 anos, eu não teria coragem de fazer um terço das coisas que fazia antes, é muito arriscado!
Trabalhei por um ano nesta casa noturna, depois arrumei alguns clientes fixos, os quais pagavam-me pra passar o final de semana com eles e afins, éramos íntimos, cheguei a ser pedida em casamento, mas eu não me sentiria feliz vivendo ao lado de um homem a vida inteira, só porque ele tem dinheiro.
Hoje me arrependo! Chegou uma época que eu não ia mais para casa noturna, só atendia esses meus clientes fixos, e estava ótimo! Porém foi nessa época que comecei a usar drogas, eu precisava de uma diversão, já que eu não conseguia ser feliz com nada, não via mais graça nas coisas, o mundo era muito podre, os homens não valiam absolutamente nada, então comecei a ficar com mulheres. Na noite a maioria das garotas, namoram, ou são lésbicas, pelo simples fato de ver que os homens realmente não valem nada. Com 20 anos, eu estava drogada, bebendo, não estudava e vivia acabada na noite. Até que chegou o dia que eu não quis mais essa vida, conheci um cara muito gente boa, ele me ajudou muito, começamos a namorar e eu não trabalhei mais na noite, arrumei um emprego miserável novamente, e hoje estou fazendo faculdade. Passei minha experiência para minha melhor amiga, que estava precisando muito de dinheiro, ela era virgem, por ser lésbica, nunca tinha saído com um cara. A mãe dela é alcoólatra, o pai saiu de casa e não fala com ela, pelo fato da orientação sexual, lamentável .Quando minha amiga ficou desempregada, desesperada, me pediu ajuda, eu disse para ela, “eu sei como vc consegue ganhar bastante dinheiro rápido e “fácil”. Ela não sabia se tinha coragem. Essa semana (maio de 2015)fez um ano que ela está trabalhando na noite. Eu comentei com ela que iria escrever essa matéria, ela me passou algumas coisas hilárias e tensas, só para vocês terem uma noção de como é trabalhar na noite hoje.
“Um japonês me pagou pra sair com ele só pra ele me fazer massagem. Um mineiro me pagou 1.000 pra ir pra balada com ele e fingir que eu era namorada dele. Um japonês me levou em um hotel em SP tão foda que eu queria ficar mais tempo só por conta do jantar e do lugar. Já ganhei bolsas de clientes chinês por conta da maioria serem donos de lojas de bolsas na 25 de março.”
Essas são algumas das histórias que vivemos nas noites de São Paulo, experiências as quais foram boas e ruins, mais que hoje eu não viveria mais.
Entrevista originalmente concedida A Aleska Drychan para a Revista Alternativa-L em 2015.