Os meios de comunicação esgotam as formas de contar as agruras das “saídas do armário” dos homossexuais masculinos, mas pouco se fala do assumir-se ou descobrir-se das mulheres, passando a falsa impressão de que não sofremos, não possuímos medos ou dúvidas e que toda a pressão familiar e social só recaia sobre os homens gay. Conversamos com 3 leitoras que nos revelaram toda sua rebeldia em assumirem –se lésbicas ou bissexuais e o preço pago por essa ação.
ELA ( Bianca 18 anos)
Tudo começou com apenas um olhar…um toque…
Todos nós, em algum momento de nossas vidas, paramos e nos perguntamos quem realmente somos. Medimos nossos atos, nos surpreendemos com os nossos desejos, descobrimos um novo “eu” a cada sentimento. Como todo cidadão nos encaixamos na sociedade, nos privamos de algumas verdades, e as vezes até mentimos para nós mesmos. Tentamos ser muitas vezes aquilo que não somos , tememos a realidade, escondemos os nossos desejos. Mas, já percebeu que não podemos nos esconder dos nossos próprios pensamentos? Pois é, eu percebo a cada momento…Eu percebo nela. Quem é ela? O que tem nela? Uma noite, um instante, uma aventura singela. Um toque, um olhar, uma piscadela Seu jeito inocente mas ao mesmo tempo provocante. Seu sorriso puro, malicioso, perturbante
O que ela tinha que me hipnotizava de forma tão constante? Ela era um mistério, e com certeza um que eu adoraria desvendar. Mas, isso tudo era loucura. Espera… eu nunca dissera ser normal. O que estava acontecendo? Ah, esses desejos. Eu não estou entendendo! Não importa mais, quero me derreter em seus beijos. Como isso foi acontecer? Seu toque, seu jeito, seus devaneios. Suas carícias, seus encantos, seus anseios. Tarde demais, eu já me rendi, muito antes de entender o que estou fazendo aqui. Não quero voltar à realidade, está bom aqui. Não quero ligar para o demais, viver o sentimento é o que há dentro de mim. Quero me entregar à essa fantasia. De seu riso frouxo à uma linda melodia. Das borboletas no estômago à um toque perigoso do desconhecido. Às experiências de um novo que agora me faz todo o sentido. Ao desejo do reencontro antes mesmo do fim aqui proposto. Me entregar à esse amor bandido para outros, mas puro e inocente, incrível e indecente, novo e inexplicavelmente livre. Me entregar à essa sensação de que nada mais importa, de que somos eu e ela contra o mundo lá de fora. Sim, só ela me importa. Me conforta. Com um toque, uma piscadela. Ela. Linda, tão dela. Ela. Meu novo “eu”, graças à ela.
Certa Certeza Bruna Schimdt. ( 22 anos)
Antes de me assumir eu vivia uma mentira, dia após dia, mentindo para todos a minha volta, e principalmente, para mim mesma. Eu sabia que era diferente, mais tentava me encaixar na sociedade, tentava ser igual a todo mundo, não queria ser o que eles chamavam de ”anormal”. Até que eu percebi que eu era igual a todo mundo, que não era anormal, e sim humana, só que com gostos diferentes. No início eu tive medo, medo do que as pessoas iriam falar de mim, e principalmente, medo do que os meus pais iriam me dizer. Mais eu já estava cansada de viver uma mentira, então decidi ir fazendo isso aos poucos, comecei contando aos meus amigos mais próximos, e o que eu ouvi deles foi: ”Não importa o que você gosta, e sim a pessoa incrível que você é”. Ouvir essas palavras de algumas pessoas muito especiais para mim, foi uma das melhores coisas que me aconteceu durante esse processo. Com o tempo, todos que me conheciam, já me conheciam sabendo a pessoa que eu realmente sou e que eu gosto de mulheres. E conforme o tempo foi passando, todos a minha volta sabiam, menos os meus pais, esperei ficar segura comigo mesma antes de conversar com eles, até que esse dia chegou, e bom, ouvi muitas coisas que eu não queria, pois a reação de ambos não foi nada agradável, mais eu já sabia que iria ser assim e já tinha me preparado para isso.
Eles até hoje não gostam de falar do assunto, reclamam do meu jeito de se vestir e do meu cabelo curto, mais o que importa é que eu parei de mentir pra eles, para os meus amigos, para mim mesma. E bom, posso dizer com toda certeza que hoje eu sou feliz de verdade, pois não vivo mais uma mentira, e tirar tudo isso de dentro de mim foi um alívio enorme, me deixou mais leve, me deixou tranquila e em paz comigo mesma. Hoje, só faço o que eu gosto de fazer, e se isso incomoda a sociedade, então é problema deles, pois nunca deixarei de ser feliz por conta do que eles falam, acham, ou deixam de achar. Sou feliz com minhas escolhas, e principalmente, sou feliz comigo mesma.
Meu nome é Simone de Oliveira , tenho 40 anos me descobri gostando de outra mulher por volta dos 10 anos de idade e me sentia estranha ( estávamos nos anos 80 e não era comum falar sobre o universo homossexual na minha família tão pouco na TV, pelo menos no horário que eu podia assisti-la.) Acreditava que só eu era assim: estranha.
Na adolescência contei para minha mãe sobre mim e ela me entendeu e me respeitou ,aliás foi a única pessoa que sempre me apoiou em tudo, ela já foi embora deste mundo, mas antes de partir me deixou todo seu carinho e me ensinou a respeitar-me e nunca permitir que alguém me faltasse o respeito devido à minha vida sexual, afinal a vida é minha.
Uma das coisas divertidas que me lembro da adolescência era a aventura para você conhecer alguém, eu costumava frequentar as danceterias ou barzinhos da rua Santo Antonio,no centro de São Paulo, a Sky era local certo, sempre com gente jovem e alguns barracos, mas gostava de ir lá , era uma época boa…. Faz tempo que não saio a noite, as coisas mudaram muito, a internet tirou um pouco da magia da noite paulistana . Após muitos encontros e desencontros em 2013 eu me casei no civil com uma mulher que além de tudo é minha amiga e cúmplice, somos felizes e a única coisa que me falta é o carinho da minha mãe.