Em um belo dia, resolvi visitar a casa de meus genitores, falo assim por não ter vínculo emocional forte com eles, estava por perto e resolvi passar por lá justamente por não os ver a quase 6 meses, ter avançado muito em minha transição, achando que assim me vendo bem mais avançado, entenderiam e respeitaram minha identidade de gênero, chego no portão chamando por minha mãe (sim ela trato como mãe), que sorrindo vem me atender, os olhos dela brilhavam, como se estivesse maravilhada com o que estava vendo.
Ela me recebeu com todo amor, nossa, como senti falta disso, aquele abraço e beijo tão bom…
Eis que surge meu ginitor, que em alto é bom tom, grita meu nome de registro, pois, ali haviam pessoas trabalhando em uma obra que ele está fazendo na casa, em seguida me solta a seguinte frase :
-EU NAO ACREDITO QUE FIZ ESSA DESGRAÇA.
Imaginem como fiquei? Não quis estender muito o assunto, fui com minha mãe conversar, descobri por ela, que meus móveis e tudo que era meu, foi jogado fora, porque ele montou uma academia onde era meu espaço.
A tarde foi agradável ao lado de minha mãe, que só me fez sorrir, sem ele por perto.
Quando ele voltou (podia ter ficado por onde estava), começou a falar sobre mim, sempre me tratando no feminino, e dizendo que foi uma escolha ruim e que era até bom eu quase nunca ir lá, assim não o envergonhava, ja que os amigos dele não entenderiam(sera?).
Minha mãe me perguntou sobre minha gestação, me pediu pra ter cuidado, pois, existem riscos pro bebê quando se toma hormônios, mais se mostrou super empolgada perguntando quando daria um neto a ela. Dizendo que eu seria um ótimo pai.
As vezes eu paro e me pergunto, as pessoas não têm a menor ideia de quanto nos afeta, ser tratado incorretamente, ser machucado com palavras ofensivas, se isso dentro da “família” já machuca demais, imagine de fora?
É por isso que quase nunca os visito, quase nunca converso, hoje, sou o homem que eu sempre sonhei, que estava preso em mim, quem eu amo, quem sou.
Posso não ter apoio algum da minha família, mas sei, que com tudo isso só me tornei mais forte.
Resistir e persistir, para nós homens trans, não é uma hipótese, é uma necessidade, somos mais que seus olhos possam ver, somos pessoas, que precisam de amor e amparo, que precisam ser amadas.
Respeite o colega, você nunca sabe quantas cicatrizes eles trazem no corpo e qual tamanho de suas dores.
Paulo Mendel
Ótimo texto como sempre, Biel!